Que o café é uma das bebidas mais populares do mundo ninguém tem dúvida, mas não é igual em todo o lugar. O mais curioso é observar como o gosto e o preparo muda de acordo com a cultura de cada local. Isso vale também para o espresso. Certamente para quem gosta de café uma diversão extra durante uma viagem é observar como é preparado o café em cada lugar.
Mas mesmo viajando com a cabeça aberta para experimentar existe aquele momento em que você quer tomar um bom espresso, sem surpresas. E é neste aspecto que nuestros hermanos argentinos, chilenos e uruguaios deixam a desejar. Pelo menos para o padrão de café bem tirado que estamos acostumados por aqui. Na comparação direta entre Argentina, Chile e Uruguai os argentinos levam a melhor.
Voltando a pouco tempo de uma viagem ao Uruguai achei que valia a pena organizar minha observação de como o normal nos países do Cone Sul é encontrar um café espresso bem mais ou menos. Um cenário muito diferente do considerado regular nos países europeus da nossa família latina que também preservam a cultura do espresso (Itália, França, Portugal, Espanha), e ainda muito longe da qualidade média que eu mesmo estou acostumado na cidade de São Paulo.
Espresso no Havana Café de Bariloche (Argentina).
O melhor de tudo ainda é o alfajor que acompanha
Argentina - Mesmo em Buenos Aires o que impressiona é que máquinas espresso espalhadas pela cidade são tão ou mais comum do que em São Paulo. Mas encontrar um bom café é tarefa bem mais complicada. Existem várias exceções é claro, mas se você sai em busca de um espresso e entra no primeiro café que encontrar em uma esquina de Buenos Aires (e são vários) é quase certo encontrar aquele café aguado, sem creme, quase transbordando na xícara acompanhado de um copo de água com gás suficiente pra limpar a boca e matar a sede. E não adianta pedir o "ristretto", como por lá chamam o curto, ele também vem queimando a língua, sem creme.
Se por um lado o café comum fica bem abaixo da média de qualquer padoca comum de São Paulo, a lista de excessões em Buenos Aires é de alta qualidade. Na lista esta a rede de lojas da Café Martinez. O atendente chega a perguntar como prefere que o café seja tirado afinal sabe que o gosto local é pelo café superextraído. Mas o ristretto é um café perfeito com grãos de diferentes partes da América Latina. Já cheguei mesmo a trazer grãos da Costa Rica comprados da Martinez para casa. Vale o esforço.
A rede da Havana Café que se espalha pelas principais cidades do país não chega a ser uma garantia de salvação. Até é possível dar a sorte de encontrar um bom barista, mas em geral o café é igual ao de todo o resto do país. Pelo menos se pode pedir um alfajor dos melhores para acompanhar o espresso aguado.
O "ristretto" muito águado e sem creme em uma das
melhores e mais charmosas cafeterias do centro de Montevideo
Uruguai - Os uruguaios seguem a regra dos argentinos. Mas com a diferença de que pelo menos nas boas cafeterias, algumas dedicadas a "cafes especiales" não existe excessão a regra, todos os cafés que provei (e foram vários) sempre vieram iguais aos piores de Buenos Aires. A diferença é só que o copo de água com gás é sempre maior e mais generoso. Acho que os uruguaios são mais sedentos por água. Basta o copo ficar vazio pro atendente automaticamente completar.
Espresso muito bem tirado no Café Haiti (Santiago do Chile)
Chile - Quando se pensa em café e Chile a primeira coisa que vem a cabeça de qualquer um é o clássico "café con piernas". Uma instituição inacreditável em uma sociedade que se caracterizava pelo super conservadorismo até pelo menos 10 anos atrás. No meio de todos os tabus do período da ditadura Pinochet lá estavam os vários cafés com balcões vazados e atendentes com micro saias servindo cafés espresso para senhores de negócios engravatados no centro de Santiago. A ditatura foi embora mas os cafés ficaram e proliferaram. Praticamente virando um padrão. Difícil encontrar uma cafeteria em Santiago que não tenha o balcão vazado e a moça de micro-saia.
E o café? Nos cafés tradicionais do centro velho de Santiago não tem erro. O curto, que por lá é chamado de italiano, vem correto, bem tirado com grãos em geral vindos daqui do Brasil mesmo. Fora dos cafés tradicionais (con piernas ou não) vira um questão de sorte. Aparentemente quanto menos movimentado mais difícil encontrar alguém que consiga variar o café de acordo com o gosto do freguês. Em Santiago acredito que vale a regra de procurar cafés em shoppings e grandes cafeterias e jamais arriscar uma loja, por mais bonitinha que seja, em qualquer lugar.